Espaço Sergio Britto
Unidade CAL Glória
Rua Santo Amaro 44
ROBERTO ZUCCO foi o texto escolhido por Renato Icarahy para o espetáculo de formatura da Turma Bt24B.
A década de 80 é marcada por grandes transformações e é neste contexto que o francês Bernard-Marie Koltès, viveu em vida tudo que experimentou na arte. Com seu espírito livre, inquieto e transformador, ele viajou pelo mundo, passando por Nova Iorque, vários países na África e América do Sul, entre outros lugares. Koltès sempre demonstrou preferência pelos marginalizados e excluídos da sociedade, e escrevia isso nos seus textos de forma poética e metafórica. No final dos anos 80 ele viveu seus últimos dias e foi nesse período que teve seu primeiro encontro com o serial-killer italiano Roberto Succo, ao ver em uma estação de metrô o rosto de Succo estampado em um cartaz de “PROCURA-SE”, sem o nome do procurado, que a polícia francesa ainda não conhecia. Koltès ficou fascinado pela beleza daquele rosto enigmático, anônimo, na estação de metrô. Este fascínio o impulsionou a escrever Roberto Zucco, que, a partir de fatos verídicos, mas sem preocupação com fidelidade histórica, reinventa a trajetória do serial-killer italiano. Assim, um assassino psicótico se torna objeto mítico, metáfora das “violências” no nosso mundo. A violência das grades e grilhões criados e impostos pela sociedade; a violência nas prisões; a violência de nossas solidões que nos acompanha desde que nascemos. Koltès não viu a primeira montagem (pelo alemão Peter Stein, em Berlim) de sua peça-testamento, pois morreu de AIDS em 1989 e carregou em segredo o estigma de ser ele próprio, mesmo involuntariamente, um serial-killer, potencial transmissor que foi da peste de seu tempo. Seu desejo teria sido a “arma” dos crimes. A família de Succo, mesmo depois da sua morte, solicitou judicialmente a proibição da peça que iria ser exibida na cidade de uma das suas vítimas, sob a alegação de “apologia ao crime”. Nesta montagem, gostaríamos de passar longe disso. Aqui Zucco é o anti-herói, vítima da indiferença e egoísmo. Zucco quer ser transparente, invisível. Quer camuflar-se no anonimato, mas sua presença jamais é ignorada e ele sempre acaba por destacar-se sobre esse pano de fundo social sem rosto e ameaçador. Por isso ele mata, mas percebe que teria que matar a todos para chegar enfim ao seu intento maior – o de ser invisível. Assim como Koltès queremos apenas apresentar este belo poema dramático, de estrutura narrativa pouco convencional, sem sequer ter uma história sequenciada, definida: cada cena representa um quadro em si, um encontro de Zucco com o Outro e ao fim e ao cabo, o individualismo persistente das personagens, a força do anonimato dos grupos sociais, o enorme silêncio em que vivemos encolhidos sobre nossos próprios umbigos, e que só revelamos quando protegidos no anonimato dos coletivos que excluem, oprimem e não escutam as vozes daqueles que não lhes são iguais.
Bernard-Marie Koltès
Letícia Courà
Renato Icarahy
Victor Hugo Magalhães
Verônica Fernandes
Fernanda Correia
Wilson Reiz
Rose Gonçalves
Sueli Guerra
Charles Kahn
Rita Ariani
Amanda Bougleux
Pablo Henriques
Marcia Quarti
André Julião
Dayene Ruffo